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Na Amazônia Oriental as florestas desmatadas demoram mais para se regenerar


Avaliações precisas do balanço de carbono de áreas em regeneração são vitais para acompanhar suas taxas de crescimento ao longo do tempo e suas respostas às mudanças climáticas globais




O crescimento de florestas em regeneração na Amazônia Oriental, área mais devastada do bioma, acontece em ritmo bem mais lento do que o estimado por pesquisadores até o momento. Apesar dessas florestas continuarem a crescer ao longo de décadas, as taxas de absorção de carbono são menores do que o esperado. Esta é a principal conclusão do artigo publicado recentemente na revista Forest Ecology and Management, por pesquisadores do projeto Synergize do Centro de Síntese em Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos, SinBiose/CNPq.

O sequestro de carbono por florestas em crescimento após serem desmatadas, as florestas em regeneração, é considerado uma estratégia eficiente para conter os efeitos das mudanças climáticas. “O resultado que temos encontrado de forma consistente é diferente do que outros estudos têm mostrado. As áreas que estudamos crescem muito mais devagar e as taxas de absorção de carbono são muito mais baixas do que o esperado e muito variáveis entre as regiões”, explica Joice Ferreira, pesquisadora da Embrapa Amazônia Oriental e uma das coordenadoras do projeto Synergize. As maiores taxas de acumulação de carbono encontradas pelos pesquisadores foram cerca de 49% menores que as estimadas em pesquisas anteriores.

Um dos aspectos que os pesquisadores observam é que a história do local tem grande impacto sobre esse resultado. As áreas estudadas são de regiões bastante degradadas da Amazônia, sem floresta primária no entorno, e que já passaram por diversos tipos de usos antes de começar o processo de regeneração. “Estas sucessivas mudanças no uso do solo da região influenciam as taxas de absorção de carbono já que seu acúmulo é mais lento quando comparado a outras partes da Amazônia”, completa Ferreira.

O estudo avaliou 28 áreas no Pará ao longo de 20 anos para monitorar a biomassa acima do solo, ou seja, troncos, galhos, folhas e frutos. “Esse acompanhamento nos permitiu enxergar as particularidades e as nuances de cada área e encontramos grande variação na acumulação de carbono entre as áreas estudadas”, detalha o primeiro autor do estudo Fernando Elias, da Universidade Federal do Pará.

Esse acompanhamento próximo e de longo prazo permitiu que os pesquisadores identificassem que, nessas áreas, as taxas de acumulação de carbono ao longo dos anos pode ser calculada a partir da taxa medida num momento pontual e da informação a respeito da idade da área.

"O monitoramento contínuo do carbono na dinâmica das florestas secundárias é fundamental para avaliar a resiliência das florestas tropicais em uma era de rápidas mudanças ambientais", afirma Fernando Elias, "o conhecimento que temos até então é bastante baseado na análise de áreas de floresta intacta, as informações das florestas secundárias são uma contribuição adicional muito valiosa".

Em 2016, no Acordo de Paris, o Brasil declarou sua intenção de restaurar, reflorestar e promover a recuperação natural de 12 milhões de hectares de florestas até 2030. A restauração passiva é um dos principais meios para atingir essa meta. "Os resultados que encontramos nos mostram que é preciso considerar as variações regionais no estabelecimento de estratégias de restauração em larga escala, e que avaliações precisas do balanço de carbono dessas áreas são vitais para acompanhar suas taxas de crescimento ao longo do tempo e suas respostas às mudanças climáticas globais", conclui Joice Ferreira.


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